E lá vamos nós, seguindo os passos do ciclo do sangue!
Agora, na fase do tudo junto, mas não misturado!
Expliquemos: ao mesmo tempo que o sangue está sendo fracionado, gerando os hemocomponentes, todos os três laboratórios – Sorologia, Imuno-hematologia e NAT (Testes de Ácido Nucleico) já estão analisando as amostras coletadas dos doadores.
Dessa forma, a Central de Sorologia recebe as amostras de sangue do Hemocentro de Belo Horizonte (HBH) e das outras 20 unidades da Fundação. Segundo esclarece Sônia Mara Nunes da Silva, Responsável de Setor, elas chegam no dia da doação e até na madrugada: “Juiz de Fora, por exemplo, coleta até as 17 horas e em seguida envia as amostras”, informa.
As amostras dão entrada no laboratório de sorologia e é feita a soroteca – uma forma de organização que prevê o armazenamento delas por seis meses, no mínimo, preservadas a 30 graus negativos. O procedimento é obrigatório (PORTARIA DE CONSOLIDAÇÃO Nº 5, DE 28 DE SETEMBRO DE 2017, anexo IV) e atende aos processos exigidos pela hemovigilância. Exemplo: se um doador de repetição (o que sempre doa) testa positivo para algum agente infecioso, é preciso verificar a doação anterior para ver se estava na chamada “janela imunológica” (tempo em que os vírus e bactérias estão presentes no sangue, mas que os testes, apesar da alta sensibilidade, ainda não são capazes de detectar - o período de incubação de cada doença). Assim, abre-se o processo de hemovigilância para avaliar se o receptor foi contaminado.
Em paralelo, a soroteca faz também os testes de triagem sorológica (7 ao todo) para avaliar se o doador tem alguma infecção transmissível pelo sangue como Hepatite B (que tem dois marcadores), Hepatite C, Doença de Chagas, HIV, sífilis, HTLV. No período de 12 horas, a sorologia libera todas as amostras colhidas nas unidades: em média, são mil amostras/dia que multiplicadas pelos sete testes totalizam sete mil testes/dia. Lembrando que as amostras dos outros dois tubinhos de sangue coletados dos doadores são testadas também pelos laboratórios NAT e Imuno. Em cerca de 24 horas o sangue doado já é liberado.
Os resultados de todos os exames sorológicos que são liberados pelos equipamentos são interfaceados para o computador para serem verificados: analistas avaliam os resultados - nada é manual, o sistema online é rápido, eficaz e seguro. Viva o poder das máquinas e da Internet! E da capacidade quem os opera, claro!
As amostras com resultados reagentes são separadas para testagem em duplicata, e a bolsa fica armazenada, aguardando resultados para liberação. Caso se constate permanência da reatividade, ela é descartada, e o doador é convidado a voltar à Hemominas para confirmar o resultado dos testes de triagem. Se na segunda amostra os testes forem positivos para qualquer infecção, o doador é encaminhado ao serviço médico especializado da rede pública de saúde.
E atenção, doador: se seus exames acusarem qualquer alteração, não deixe de voltar à unidade onde fez sua doação para repeti-los. Sua saúde é muito importante para todos!
Qualidade
Um equipamento especial executa os sete parâmetros da sorologia de forma totalmente automatizada. Depois, os analistas puxam os resultados e liberam a consulta para todas as unidades que, assim, têm acesso imediato a eles.
Para que os testes sejam feitos com toda eficiência e segurança possível, alguns requisitos são fundamentais: entre eles, o controle de temperatura ambiente e equipamento (freezers, geladeira, manutenção preventiva, calibração periódica dos equipamentos), obedecendo-se aos padrões internos e externos de qualidade - há o acompanhamento diário da performance dos equipamentos e testes. O consolidado estatístico dos dados gerados é encaminhado ao Ministério da Saúde.
Central Soroimuno
Neste setor são feitos os exames de imuno-hematologia do doador (tipagem sanguínea – ABO Rh), PAI (pesquisa de anticorpos irregulares), e o HBS (triagem do sangue dos doadores para verificar a presença de anemia falciforme).
Na Central faz-se também a fenotipagem que, segundo a bióloga Jomara Mendes Gonçalves, consiste na ampliação do número de testes: são técnicas de patologia clínica feitas no sangue do doador para ampliar a compatibilidade de uma bolsa de sangue destinada a um paciente específico que toma diversas transfusões rotineiramente. Quanto mais elementos compatíveis, melhores resultados transfusionais.
A pesquisa de anticorpos irregulares na fenotipagem e tipagem sanguínea requerem 1 hora nos equipamentos, conservados a 10 graus negativos.
NAT
Por sua vez, ao processar os testes de amplificação e detecção de ácidos nucléicos em todas as amostras de sangue de doador, o NAT (Testes de Ácido Nucleico) complementa os testes sorológicos, aumentando a segurança transfusional, uma vez que reduz o período de janela imunológica para 10 dias (antes a “janela” demorava 24 dias). Lembrando que janela imunológica é o tempo que o organismo leva para produzir anticorpos em reação ao vírus.
Com o NAT, diminui-se o risco de transmissão dos vírus da Hepatite C (HCV), HBV e do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) por transfusões de hemocomponentes.
Na pré-sala de amplificação, segundo técnicas de biologia molecular com amplificação do material genético, faz-se a triagem molecular de todos os doadores de MG (da Rede Hemominas e alguns particulares) para HIV, HCV (hepatite C) e HBV (hepatite B).
O HCV é um vírus que infecta o fígado. Mais comum e mais infeccioso do que HIV-1, o vírus HCV afeta cerca de 170 milhões de pessoas no mundo e é transmitido de individuo a indivíduo através dos líquidos de corpo, particularmente do sangue e dos produtos do sangue. O HIV é o retrovirus que causa a Síndrome da Imunodeficiencia Adquirida (SIDA/AIDS).
A farmacêutica responsável de setor, Andréia Tângari, explica que o NAT pesquisa a presença ou não do vírus no sangue e não a presença de anticorpos: as pesquisas NAT foram desenvolvidas, na área de rastreio das doações de sangue, para detecção da infecção no período que precede o desenvolvimento de anticorpos, durante a fase inicial da mesma. A liberação dos resultados é feita de 8 a 10 horas.
Em caso de NAT com sorologia positiva, a amostra de sangue do doador vai para o Serviço de Atendimento Médico ao Doador Inapto (SAMDI), para as providências previstas na Hemovigilância - conjunto de procedimentos de vigilância que abrange todo o ciclo do sangue, com o objetivo de obter e disponibilizar informações sobre eventos adversos ocorridos nas diferentes etapas, a fim de prevenir o aparecimento ou recorrência desses efeitos, melhorar a qualidade dos processos e hemocomponentes e aumentar a segurança transfusional.
Como se vê, a utilização de tais práticas requer pessoal qualificado, espaços e estruturas adequados, equipamentos e rotinas que contemplam, apenas nesse caso:.1) a coleta do material e sua conservação; 2) transporte das amostras; 3) extração do DNA; 4) preparação da amostra; 5) amplificação do DNA/RNA; e, 5) armazenamento do plasma.
Imaginem, então, toda a estrutura de recursos humanos, com a necessária capacitação em todos os níveis, engenharia clínica, mecânica, equipamentos de ponta etc e tal utilizados em toda a Rede para que o Ciclo do Sangue aconteça de forma segura em todas as 21 unidades que compõem o universo Hemominas.
Papo para a última reportagem da série.
Aguardem!
Enquanto esperam, deêm uma olhadinha nas fotos e vídeo que preparamos para ilustrar a série: